terça-feira, 28 de abril de 2009

Revista Época aborda o preconceito contra alunos homossexuais em escolas brasileiras


 

A revista Época dessa semana abre espaço para um assunto pouco discutido e de extrema importância para a comunidade LGBT: o preconceito nas escolas. Duas pesquisas feitas pela Unesco em 2004 ilustram a gravidade da situação. Descobriu-se que 40% dos meninos brasileiros não querem um colega homossexual sentado na carteira ao lado; outra, com professores, mostrou que 60% deles consideram "inadmissível" que uma pessoa mantenha relações com gente do mesmo sexo.

A
reportagem
de Ana Aranha conta a história de quatro personagens, todos adolescentes, vítimas da homofobia causada tanto por outros alunos como por diretores e professores.

No primeiro caso está Daniel (nome trocado) que, na verdade, é Dani. Aos 8 anos, a transexual espalhava para os amiguinhos do colégio que 
 era obrigada a ir disfarçada à escola. "Meu pai quer um filho homem e me faz usar essas roupas e esse nome. Mas eu sou menina". Aos 13 anos, passou a usar brincos e fazer as unhas.

Para os professores, a transexual pediu que a chamassem de Dani, com o pronome feminino "a". Só duas professoras concordaram. O estopim foi quando a adolescente aplicou mega-hair (aplicação de mechas no cabelo), e sua mãe foi chamada à escola. Pais de outros alunos diziam que "não queriam sua filha perto dessa aberração".

Dani começou a faltar às aulas semanas seguidas e tirar notas vermelhas. Repetiu, pela primeira vez, o ano. Foi quando sua mãe resolveu se mudar para São Paulo e procurar por alguma escola que soubessem lidar com a diferença, busca que não foi nada fácil. A adolescente foi rejeitada em sete escolas. Hoje, aos 15 anos, Dani estuda em uma escola especial, voltada para alunos com dificuldade de aprendizagem e deficiência física ou mental.

"Há um muro de preconceitos que impede as pessoas de aceitar os homossexuais: eles são promíscuos, não têm família, morrem de aids. Quando se veem diante de um aluno gay, os professores e diretores simplesmente não sabem como agir", diz o educador Beto de Jesus, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que é um dos lideres de um projeto financiado pelo Ministério da Educação para formar professores e ajudar as escolas a lidar com a diversidade sexual de seus alunos.

O grupo vai produzir um kit didático para 6 mil escolas. Nele, haverá orientação para diretores e professores e material para os alunos. Como parte do mesmo projeto, estão sendo realizados encontros regionais com secretarias da Educação, ONGs e universidades.

Para evitar que transexuais parem de estudar, algumas secretarias de Educação estão criando uma portaria para orientar as escolas. A primeira, criada ano passado no Pará, permite que alunos transexuais escolham seu nome e sexo para o registro de sua matrícula. Em um mês, a secretaria já conta com 111 transexuais e travestis matriculados.

"Coisa de Veado"
Na época do colégio, Pedro Gabriel Gama, 18, sempre achou que sua homossexualidade seria dificilmente aceita por seus amigos de escola. Quando, pela primeira vez, cruzou as pernas e colocou um brinco na orelha, suas amigas o questionavam. "Que brinco ridículo é esse? Descruza essa perna, parece uma moça!". A cada pequena ação que fazia, Pedro quebrava um tabu e sentia-se orgulhoso.

Até que um dia, o jovem mobilizou uma greve por falta de água na escola. No dia seguinte à manifestação, Pedro ouviu do diretor do colégio que sua atitude não era "coisa de homem, e sim de veado". O estudante não reagiu. "Nem sabia que aquilo se chamava homofobia", afirmou. Sua saída do armário só aconteceu quando começou a faculdade.

O caso de Lídia Vieira Barros, de Tocantins, foi diferente do de Pedro. Estudante de colégio particular, Lídia foi pega no banheiro beijando outra menina. O acontecimento rapidamente caiu na boca dos outros alunos. "Ela era uma das meninas mais bonitas da escola. Os meninos vieram me cumprimentar", conta. Na matéria, a jornalista aponta para o fato do preconceito contra lésbica ser diferente, pois se manifesta mais contra os modos e as vestimentas masculinizadas e menos contra a opção sexual (sic) propriamente dita.

Cansada de ouvir de outra menina a palavra "sapatão", Lídia se irritou e a chamou para a briga. Após a confusão, sua mãe foi chamada à escola e foi orientada pela orientadora a procurar uma psicóloga para sua filha. "A outra menina saiu no crédito. Eu é que precisava de tratamento", diz Lídia, indignada.

Crime Civil
Considerada crime civil, a homofobia praticada tem como punição o pagamento de multa. No caso de Geraldo (nome trocado), de 17 anos, isso não aconteceu. Seu professor de biologia se recusou a entregar uma apostilha para ele e seus amigos, com a seguinte alegação: "As bichinhas não precisam deste material". Geraldo reclamou à direção da escola e fez um boletim de ocorrência. Porém, o professor foi apenas recriminado verbalmente e pediu uma semana de licença, depois voltou a dar aulas.

Se houvesse a condenação, o governo é que seria responsável por pagar a multa, pois o professor estava em horário de trabalho. Geraldo move uma ação contra a Secretaria de Educação.

A reportagem da Época apurou que uma ONG, da mesma cidade, faz oficinas para ajudar os professores a lidarem com a diversidade sexual. O Centro de Apoio e Solidariedade à Vida leva textos e vídeo sobre o que já foi discutido na área. "O professor fica assistindo para ver que não é um bicho de sete cabeças", disse Anselmo Figueiredo, diretor da ONG e coordenador do projeto.

Acompanhando uma dessas oficinas, a jornalista notou como é difícil tratar o tema com os adolescentes. "É possível uma pessoa nascer com pênis e se sentir mulher?", perguntou Anselmo a uma turma de 1o ano do ensino médio. Um aluno respondeu em voz alta: "Todo homem que gosta de homem se sente mulher!". E continuou em voz baixa: "O Henrique (o nome foi trocado) se sentia mulher...". O comentário foi seguido por risadinhas a seu redor.

Anselmo se referia a um colega que estudou na mesma sala. Gay assumido, Henrique foi cercado e agredido por dez alunos mais velhos no ano passado. Anselmo continuou: "Vamos repensar nosso comportamento. Por que homem não pode gostar de balé?". Os alunos responderam em coro: "Hummm...". O próprio Anselmo riu com os alunos. Segundo a matéria, ele sabe que apenas uma oficina não vai mudar a cabeça de ninguém. "Precisa de trabalho constante, cartazes, atividades e intervenção do professor quando o preconceito aparecer."

"Vivemos no limite da barbárie", diz Iracy Gallo sobre homofobia escolar


Iracy Gallo assumiu a secretaria de Educação do Pará em janeiro do ano passado. Porém, o seu nome ganhou notoriedade nacional quando em abril de 2008 baixou a portaria nº 16/2008, que tornou legal o uso do nome social das travestis e transexuais no ato da matrícula escolar nos colégios públicos do Estado.

    A medida passou a valer em janeiro desse ano. Iracy Gallo esteve
presente na abertura do III Congresso da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Travestis), onde foi ovacionada por todos, para discursar sobre a portaria e também para ser homenageada. A sua medida lhe rendeu o prêmio Direitos Humanos ABGLT.

    Entre o discurso de abertura e o recebimento do troféu DH, a secretária concedeu entrevista exclusiva a reportagem do site A Capa. No bate papo ela relata que a ideia do projeto nasceu dentro do seu escritório. "Tem uma travesti que trabalha comigo e é a minha assessora direta desde 2001", conta Iracy.

    A respeito da homofobia em universidade, ela é enfática ao dizer que a sociedade vive hoje no "limite da barbárie" e que é necessário repensar a escola. Sobre os materiais didáticos, ela dispara e diz que não é possível continuar com livros de conteúdo "sexistas".

De onde surgiu a ideia desse projeto?
Eu assumi a secretaria em janeiro de 2008 e ainda no mês de janeiro nós realizamos a primeira conferência estadual LGBT. Um dos eixos foi a inclusão e a diversidade. O encontro apontou uma série de diretrizes, metas e objetivos visando a inclusão e o respeito à diversidade das pessoas. A partir daí um dos estudos da secretaria foi: como pegar as diretrizes e traduzir isso na prática e efetivamente estabelecer uma política que inclua e respeite a diversidade. Tem uma travesti que trabalha comigo e é minha assessora direta desde 2001.

E como surgiu a discussão de fato?
A primeira situação foi discutir a questão do nome social no nosso local de trabalho. Ela tem um peso e eu vejo todo o problema ao longo do período histórico: o constrangimento, o preconceito, as piadas... Foi onde nós começamos a pensar que, para conseguirmos incluir as pessoas, elas têm que se sentir respeitadas. Poder usar o seu próprio nome e não passarem pelo constrangimento de serem chamadas oralmente na sala de aula por outro nome e serem estigmatizadas dentro do ambiente escolar. Essa foi a ideia.

Como a governadora do Pará, Ana Julia Carepa (PT-PA), recebeu essa proposta?
Ela deu muito apoio. Dentro do governo foi consenso. Todo o apoio que a secretaria precisou, ela recebeu. Diretores da secretaria de Educação, todos os secretários adjuntos, enfim, toda a equipe foi muito solidária no apoio a essa ação.

Vocês pensaram em levar para a Assembleia Legislativa do Pará?
Naquele momento nós decidimos o seguinte: se fizéssemos um projeto para ir à Assembleia teríamos um tempo e ele talvez até passasse. Mas teríamos um embate político e decidimos fazer diferente: vamos implantar e depois mandamos o projeto. Assim, a gente garante que as pessoas assumam esse direito. Agora a gente tem um outro caminho: queremos que os deputados encampem a portaria e a transformem em um projeto de lei. E agora nós temos sujeitos que voltaram às escolas e dirão "isso é um direito meu". Então não dá para retroceder.

A escola é um ambiente homofóbico?

Sim, a escola é um espaço extremamente homofóbico. Os nossos materiais didáticos, quando trazem as famílias, não abordam a diversidade e a orientação sexual que existem de fato. E isso precisa ser mudado. Eu costumo dizer assim: o mais fácil foi assinar a portaria, agora é garantir que as pessoas conheçam e procurem o respeito ao direito, que é garantido pela portaria. Dentro da escola, essa discussão precisa ser iniciada, e é urgente um debate que vise à reorientação curricular que dê conta da diversidade, da orientação sexual das pessoas, da etnia, da cultura. Que a escola seja múltipla e diversa como são os seus frequentadores, que são homossexuais, travestis, lésbicas, gays, que são índios e negros. Que a escola reflita isso. Ela não pode ter aquele material didático com conteúdo sexista.

Há alguma estratégia para acompanhar a aplicação da portaria?
A nossa matrícula é online e no formulário dela vem o nome, o registro e o campo do nome social, que é preenchido pelo responsável ou pelo educando. Então nós podemos visualizar onde essa pessoa se matriculou e colocou aquele dado e, partir daí, temos como controlar que o direito, que é o do nome social, será respeitado.

O corpo docente está preparado?

Não.

E como prepará-lo?
A partir de um debate. É aquela história de ganhar corações e mentes. Ou seja, convencer as pessoas e dizer a elas que é importante.

Como eles receberam?
Olha, eu esperava uma resistência muito maior, mas foi muito tranquilo. Acredito que a resistência deverá acontecer no dia a dia. Aí é muito importante os movimentos sociais monitorarem, subsidiarem, apoiarem as pessoas e levantarem essa questão para o debate.

A senhora acompanha a questão do PLC 122 - que criminaliza a homofobia no país?
Sim.

Acredita que ele será aprovado?
Eu espero que sim. A senadora Fátima Cleide (PT-RO) é uma política importante pra área da educação, para a luta contra a homofobia e para a garantia dos direitos sociais.

Antes do seu trabalho com a secretaria, a senhora já tinha experiência com o tema LGBT?
Só dos movimentos sociais e de debates, pois eu sou da Universidade e esta é um espaço propício e muito democrático no sentido de promover discussões e articulações.

Como você analisa os casos de homofobia na
USP (Universidade São Paulo) e na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)?  Nesta última houve até agressão física...
Isso é inadmissível, é uma barbárie. Mostra em certa medida o quanto a escola, e quanto o uso do termo escola como instituição de ensino está descolado da contemporaneidade. Se as instituições não repensarem qual é a escola que precisamos para construirmos um mundo de fato desenvolvido, vamos continuar no limite da barbárie.

A senadora Fátima Cleide disse que, quando abraçou o PLC 122, começou a ser perseguida e sofreu com preconceitos. E a senhora por ter bancado essa portaria, já está sofrendo com coisas do tipo?
Ainda não. Um colega brinca que eu não serei eleita para mais nada na minha vida. Eu não tenho pretensões de sair candidata, mas isso é uma verdade. É fundamental que a gente separe a fé e a religiosidade das pessoas, até porque todas as religiões pregam o respeito ao outro, o amor ao próximo, então esse tipo de postura (dos religiosos) não casa e não combina com a homofobia, com a perseguição, com o preconceito, com a discriminação com quem se pretende dizer um homem de fé. Na realidade essas instituições que se dizem religiosas, de fato não vivem o que apregoam.


Depois que o Pará baixou a portaria outros Estados começaram a debater e copiá-la. Achava que tal atitude geraria esta influência?
O governo do Distrito Federal, na pessoa do seu secretário da Educação, me procurou e pediu a cópia [da portaria] e eles estão debatendo. Eu não tinha ideia. Na realidade, na momento em que fiz (a portaria) nem sabia que éramos os primeiros. Imaginei que já tivesse em algum lugar.

Como é ter uma recepção como essa na abertura do Congresso? Ser aplaudida de pé por todos os presentes?
Eu fiquei muito emocionada e agradecida. Não me acho tão merecedora de todas essas homenagens, mas fico envaidecida de estar ajudando a diminuir o sofrimento, o preconceito de muitas pessoas.

sábado, 25 de abril de 2009

Mãe é presa na Escócia por agredir filho gay

Na Escócia, a mãe do jovem Stuart O'Neill, 16, Celia Dunca, de 42 anos, foi presa por agredir seu filho, que é gay assumido. Segundo Stuart, a agressão teve caráter homofóbico, pois sua mãe não aceita sua homossexualidade.
"Minha mãe não gostava do fato de eu ser gay. Ela me disse para parar de ser gay ou sair de Aberdeen", revelou Stuart.
Celia enviou também, por celular, mensagens homofóbicas ao filho e o agrediu quando ele estava acompanhado de seu namorado. "Eu realmente me sinto traído pela minha mãe. O que ela disse para mim foi vil e doloroso."
Depois de confessar a agressão e ser ouvida na delegacia de Aberdeen, Celia Dunca pagou uma multa de R$ 750,00 e foi liberada.
FONTE: A CAPA

Professora conta como derrubou preconceitos ao assumir transexualidade


Professora nos ensinos primário, fundamental e médio em Embu das Artes, Geanne Greggio, 32 anos, se transformou em um dos principais nomes na defesa dos direitos de travestis e transexuais nessa pequena cidade da Grande São Paulo.
Nascida em Jaboticabal, interior do Estado, Geanne é uma figura singular. Articulada e extrovertida, ela usa sua inteligência para conquistar admiração. O fato de ter assumido sua mudança de sexo apenas aos 23 anos não chega a incomodá-la. Ela defende que sua decisão teve um motivo: queria ser antes respeitada por sua história de vida do que por sua simples condição de travesti.
Em entrevista exclusiva ao site A Capa, Geanne fala um pouco sobre sua trajetória, explica por que acredita que o estigma contra as travestis pode ser derrubado e conta como enfrentou o preconceito ao assumir sua transexualidade. Leia a seguir.
Me conte um pouco sobre você. Soube que sua história é um pouco diferente de outras travestis...
Eu nasci no interior de São Paulo, em Jaboticabal. Fui uma criança que brincava muito, era bem moleque para ser sincera. Sou caçula de uma família de quatro irmãos e sempre fui muito independente. Toda a minha família me apoia.
Você é professora da rede pública em Embu das Artes. Como surgiu o interesse em se dedicar à educação, mesmo sabendo que esse meio ainda é muito preconceituoso?
Eu fiz faculdade muito cedo. Estudei Letras por opção e também para realizar o sonho de minha mãe, que sempre quis ter uma filha professora. Foi aí que me encontrei. Aos 19 anos já estava dando aulas no interior e, mais tarde, me mudei para Embu das Artes. Era para eu ficar apenas um ano e estou aqui há 10. Vim para cá como homem, foi só quando completei 23 que eu decidi pela adequação. Deixei os cabelos crescerem, fiz laser para tirar alguns pelos e fui mudando gradativamente. Esse processo durou mais ou menos três anos. A maioria das travestis começa bem cedo e depois não consegue encarar a sociedade. Elas trabalham em empregos comuns, o que nunca foi meu objetivo: resolvi estudar primeiro, me estabilizar. Aqui em Embu sou professora do Estado, dou aulas de português e inglês, e na Prefeitura sou coordenadora de uma escola.
Como seus colegas de trabalho e alunos lidam com o fato de você ser transexual? Já foi vítima de preconceito?
O preconceito existe sim, em todo o lugar, mas quando você tem um objetivo e mostra para as pessoas que tem um lado profissional, elas acabam te respeitando. Estou na educação há 11 anos e aprendi a lidar com isso. Os alunos, pais e direção me respeitam, embora eu ainda tenha dificuldade com os outros professores e diretores. Pais e alunos sempre me olharam como eu os trato e, se você age dessa maneira, você recebe isso de volta. Essa é a base da minha vida profissional.
De que forma você luta contra esse preconceito? Como acredita que ele pode ser abrandado em todas as esferas da sociedade?
Eu acredito que o preconceito pode ser combatido, pois a partir do momento que as pessoas conhecem melhor uma travesti ou transexual que trabalha, que é profissional, elas acabam olhando com outros olhos. Trabalhar na formação de cidadãos conscientes e críticos faz parte da minha profissão. Que tipo de ser humano quero formar? Um ser humano crítico, um ser pensante e sem preconceitos.
Recentemente, a imprensa noticiou o caso do professor no DF que foi demitido de uma escola por tocar uma música sobre beijo lésbico. Você acompanhou o caso? Qual foi a sua reação?
Acompanhei o caso desse professor e achei um grande absurdo. Tanto a música ("I Kissed a Girl") quanto a cantora (Katy Perry) fazem parte do cotidiano dos adolescentes. Não vejo mal nenhum trabalhar a diversidade. Realmente, foi um ato de discriminação. Como professora, não posso aceitar o fato e ficar calada.
Como governo e a sociedade civil podem contribuir para a total inserção de travestis e transexuais no mercado de trabalho?
O Governo poderia abrir mais espaço nas escolas, trabalhar melhor o corpo docente e prepará-lo para essa realidade. As Ongs poderiam oferecer mais cursos profissionalizantes para que as travestis possam ter mais emprego e outras opções além da prostituição.
Li que você nunca se prostituiu e acredita que a prostituição de certa forma contribui para a estigmatização das travestis. Ao seu ver, como é possível derrubar esse estigma?
Não tenho nada contra quem faz, mas tudo depende da visibilidade que você quer ter. Se quiser ser tratada como uma pessoa comum, então faça coisas como uma pessoa comum. Invista num trabalho, estude, constitua uma família. Infelizmente, a sociedade sempre associa as travestis à prostituição. Eu quebrei muitos pré-conceitos e derrubei esse estigma provando que você pode ser diferente, que existe um outro lado também, mais sério.
Você já conseguiu mudar seu nome no R.G.? Em qual passo você se encontra nessa batalha?
Estou no processo de mudança do meu nome. Dei entrada há pouco tempo, mas meu advogado está confiante e tenho certeza que sairei vitoriosa.
Você já pensou em se submeter à cirurgia de adequação sexual? Por quê?
Ainda não me vejo preparada para isso e, mesmo sem a operação, nunca deixei de me sentir mulher. O fato de ser mulher não recai apenas na genitália, está na alma, no coração.
Entrando um pouco na sua vida pessoal, você namora? Assume seu relacionamento para colegas e amigos?
Sou casada há três anos, tenho um marido que me respeita como mulher e me vê como mulher. Ele me assume para a família, amigos, em todos os lugares. Nunca me tratou de forma diferente, muito pelo contrário.
Você acha que tornar pública sua vida pessoal te prejudica de alguma maneira?Ser uma pessoa pública ajuda a desmistificar que toda travesti só faz programa, que usa drogas e se marginaliza. Eu faço tudo isso exatamente para mostrar para as pessoas que existe um lado sério, profissional, emocional, enfim, um ser humano como qualquer outro e que merece respeito.
O que diria para as outras travestis, que, diferentemente de você, têm medo de lutar por seus direitos?
Só conseguiremos alcançar nossos objetivos lutando, combatendo a discriminação com políticas corretas para nossa classe, exigindo e dando respeito. Acho que devemos aparecer mais, ter mais espaço na mídia e mostrar para as pessoas que ninguém é obrigado a aceitar nada, mas respeitar. Todos queremos lutar e conquistar espaço!
FONTE: site A CAPA