quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lei que reprime discriminação a casais gays deixa cariocas divididos


Rio - A intenção da prefeitura de promover a igualdade entre os sexos está dividindo os cariocas. No primeiro dia de funcionamento do setor criado na Secretaria Municipal de Assistência Social para receber denúncias de discriminação contra homossexuais, um terço dos cariocas que usaram o canal aberto reagiu contra a nova lei que pune o preconceito.

Trinta e três por cento das ligações e dos e-mails recebidos pelo Núcleo de Direitos Humanos foram de pessoas que reprovaram a medida e pediram a revisão do decreto publicado terça-feira. Os outros dois terços foram de cariocas satisfeitos, mas ainda incrédulos, querendo saber se a nova regra está valendo.


“As ligações e e-mails são no campo do medo e da discordância. Recebemos reclamações de pessoas argumentando que não gostariam que seus filhos vissem dois homens se beijando”, contou o secretário de Assistência Social, Marcelo Garcia.


Como foi informado, pelo site O DIA ontem, decreto assinado pelo prefeito Cesar Maia regulamentou lei municipal anti-discriminação, de 1996. Desde ontem, está sujeito a multa de R$ 2.290 e até cassação de alvará o estabelecimento que impedir entrada ou permanência ou oferecer tratamento diferenciado a clientes devido à orientação sexual. Mãos dadas, carícias e beijos gays agora são permitidos. “Sem exageros, assim como se espera de casais heterossexuais”, ressalta Garcia.


O economista Virgílio Rodrigues, 62 anos, nega ser preconceituoso, mas é contra o decreto, que considera um desrespeito à família. Ele acredita que a exposição ao afeto gay pode atrapalhar a formação de crianças. “Abre-se uma exceção para uma minoria. Isso não é normal. O normal é a família”, argumenta, prevendo que vai se retirar com seu neto de um local em que houver namorados homossexuais se acariciando.


As namoradas Tatiana Gaudino Brescia, 23 anos, DJ e produtora de moda, e Renata Benevides, 24, produtora de TV, estão do outro lado da mesma situação. “Quando chegamos para jantar num restaurante no Flamengo, um casal que estava com o filho pequeno saiu. Somos discretas, mas a gente não se priva de olhares e de andar de mãos dadas. Tem pai que acha que isso pode influenciar os filhos”, observa Tatiana.


Presidente do Movimento de Gays, Travestis e Transformistas (MGTT), Loren Alexandre atribui essa crença das famílias à falta de conhecimento. “Gay não vira gay, ele nasce assim. Não temos uma doença contagiosa. Somos bons cabeleireiros, bons maquiadores, costureiros, cozinheiros, bons artistas. Estamos dentro da casa dessas famílias há muitos anos”, salienta.
Loren elogiou o decreto e lembrou situações vexatórias por que passou com amigos e amigas: “Travesti ainda é motivo de chacota e os proprietários de restaurantes ainda dão direito aos funcionários de discriminar. Há algum tempo, num restaurante da Ilha, não deixaram a diretora do movimento, que é travesti, entrar no banheiro. Na hora de pagar, o valor é o mesmo. Quando precisamos usar o sanitário, não podemos”.


REPERCUSSÃO: A TURMA DO CONTRA E A DO A FAVOR
- “Sou completamente contra. Não gostaria que meu filho visse um casal gay se beijando.Como fica a cabeça de uma criança vendo esta cena? Deveriam existir limites, horários determinados.”, Thais Alvim, 24 anos, estudante


- “Concordo plenamente com o decreto assinado pelo prefeito Cesar Maia. Acredito que seja necessário existir uma liberdade total. Sou sempre contra qualquer tipo de preconceito.”, Antônio Gomes, 55 anos, projetista


- “O relacionamento gay não deveria ser permitido, só o de homem e mulher, que é o normal. Para mim isso não existe, sou contra duas pessoas do mesmo sexo se beijando em lugar público.”, Anísio Maia, 57 anos, inspetor de colégio


- “Sou totalmente favorável ao decreto e contra qualquer tipo de preconceito. Mas também acho muito difícil que ele seja cumprido pela sociedade. Isso depende de uma mudança cultural.”, Solange Rodrigues, 50 anos, socióloga